Introdução e objetivos: Em todo o mundo, a baixa ingestão de frutas e vegetais contribui significativamente para grande incidência de doenças, incluindo as doenças cardiovasculares. A Organização Mundial da Saúde recomenda uma ingestão de um mínimo de 400g ou cinco porções de frutas e vegetais por dia para a prevenção de doenças crónicas, como doença cardíaca, diabetes e obesidade. O presente estudo tem como objetivo investigar a prevalência e factores associados à ingestão inadequada de frutas e vegetais, numa amostra de angolanos adultos que participaram do estudo CardioBengo.
Metodologia: Um estudo observacional analítico transversal de base comunitária foi realizado no Município do Dande, na Província do Bengo, em Angola entre Setembro de 2013 e Março de 2014. Esta pesquisa constitui uma linha de base mais ampla sobre factores de risco cardiovascular, usando a metodologia proposta pelo manual WHO-STEPS to Chronic Disease Risk Factor. Variáveis sociodemográficas, comportamentais e clínicas foram colhidas e análise de regressão foi usada para estabelecer a associação entre as variáveis e o consumo de frutas e vegetais.
Resultados: A amostra total incluiu 2161 indivíduos com idades compreendidas entre 18 a 64 anos, na qual 64.1% eram mulheres. A escolaridade de 57.2% dos participantes foi menor que o ensino médio e somente 6.6% frequentavam o ensino superior. 61.7% vivia maritalmente, 48.3% tinha rendimento inferior a 150 USD, 21% eram hipertensos, 17.6% tinha hipercolesterolemia, 10.4% tinha hiperglicemia, 8.7% eram obesos e 32.3% tinha obesidade abdominal. Cerca de 38.8% tinha hábitos etílicos, enquanto 6.8% era tabagista. A prevalência de consumo insuficiente de frutas e vegetais na amostra foi de 86.2%. Verificou-se que o sexo feminino, o baixo nível de escolaridade e faixa etária dos 20-29 anos foram associados à ingestão inadequada de frutas e vegetais (p = 0.010, p = 0.001 e p = 0.006, respectivamente).
Conclusão: Não houve associação entre o consumo de frutas e vegetais e os factores de risco cardiovascular, foi identificada uma prevalência de consumo de frutas e vegetais muito abaixo das recomendações actuais. Os factores de risco identificados podem servir como estratégia local para aumentar o seu consumo.